O Atendimento Educacional Especializado deve ser ofertado durante o período de isolamento, dentro das ações de combate à contaminação por coronavírus. É o que reforça o parecer do Conselho Nacional de Educação publicado no dia 28 de abril de 2020.
Durante todo o período de impedimento às atividades educativas presenciais as redes de ensino devem garantir a acessibilidade às atividades pedagógicas para os alunos da Educação Especial. Também as estratégias do Atendimento Educacional Especializado (AEE) devem ser mantidas.
Como o Atendimento Educacional Especializado é possível no período de isolamento?
As nossas redes de ensino nunca passaram por uma situação próxima do que temos vivido em função do isolamento social, portanto, são conhecimentos e práticas que estamos testando e desenvolvendo ao mesmo tempo em que tudo acontece.
O Ministério da Educação e mesmo o Conselho Nacional de Educação (CNE) não publicaram diretrizes mais específicas de como executar estas recomendações, não estabeleceram prazos e nem definiram possibilidades práticas para o AEE. Cada localidade tornou-se responsável por definir suas estratégias, de acordo com a sua situação e suas possibilidades.
Definir o ponto de partida, desta maneira, pode ser complicado e angustiante. Por isso o Tô na Inclusão traz os cinco principais fatores a ser considerados para a definição das estratégias para a atuação do AEE e também oferece seis sugestões de práticas que podem ser realizadas neste período.
Os 5 fatores que devo considerar para o Atendimento Educacional Especializado durante o isolamento
Elencamos cinco fatores que devem ser considerados antes de elaborar propostas de Atendimento Educacional Especializado, que serão melhor explicados à frente:
- os objetivos do AEE neste momento
- o contexto familiar
- os meios de comunicação disponíveis
- a necessidade de dispositivos de tecnologia assistiva
- acesso à comunicação em Libras
Objetivos do AEE
O primeiro fator de deve ser considerado é os objetivos do AEE neste momento. De acordo com as orientações do CNE, o Atendimento Educacional Especializado deve priorizar, durante a pandemia de coronavírus:
- a garantia da acessibilidade às atividades pedagógicas;
- a colaboração com professores regentes e especialistas;
- a orientação aos pais e/ou responsáveis no processo de mediação destas atividades.
Contexto Familiar
O segundo fator é o contexto familiar do aluno. É preciso sempre ter em mente que, assim como o trabalho dos educadores, não tem sido fácil o trabalho das famílias, sobretudo as famílias dos estudantes com deficiência. Muitos desses alunos precisam de cuidados diferenciados no dia-a-dia, alguns continuam com os acompanhamentos de profissionais da saúde, seja por teleatendimento ou por videomonitoramento.
Tudo isso em meio aos cuidados com a casa e com os outros membros da família, com as questões de trabalho e renda que podem ter se desestabilizado neste período.
Também devem ser consideradas questões mais específicas sobre a participação dos pais e/ou responsáveis nos cuidados do aluno e sobre as possíveis situações de vulnerabilidade e violência.
A compreensão do contexto familiar ajuda muito a adequar as expectativas em relação ao que é possível propor para este aluno e quais medidas tomar dependendo da situação identificada.
Meios de comunicação disponíveis
O professor do Atendimento Educacional Especializado deve ter certeza dos meios de comunicação disponíveis. Os responsáveis deste aluno possuem telefone fixo próprio, de um vizinho ou familiar? Acesso à internet? Banda larga ou móvel? Tem computador, tablet, smartphone ou celular comum? Tem TV ou rádio em casa?
Tecnologia Assistiva
Outro fator importante a ser considerado é a necessidade de algum equipamento de tecnologia assistiva, como adaptação de materiais escolares, adaptação de mobiliário, pranchas de comunicação alternativa, lupa, plano inclinado, computadores, reglete e punção para escrita em Braile, etc.
Acesso à comunicação em Libras
Além disso, o acesso à comunicação em Libras, seja com os familiares ou através do intérprete, pode fazer grande diferença na aprendizagem dos alunos surdos.
Em muitos casos, sem estes equipamentos disponíveis em casa e sem o apoio do intérprete de Libras, fica inviável a participação nas atividades pedagógicas.
O professor do AEE juntamente com a direção da escola precisam se empenhar para viabilizar o acesso a estes recursos, podendo contar inclusive com o apoio da justiça, de organizações não governamentais, entre outros.
Então, como posso realizar o AEE? Veja 6 sugestões práticas
São diversas as possibilidades de atuação do professor do AEE neste período e considerando a realidade da educação no Brasil, elegemos seis sugestões de práticas que vão contribuir para o acesso dos alunos da Educação Especial às atividades educativas durante o isolamento:
- Organização da rotina
- Organização do ambiente
- Trabalho colaborativo com o professor regente
- Mediação pelos familiares
- Teleatendimento
- Ferramentas lúdicas de aprendizagem
Organização da rotina
Pode parecer óbvio, mas para muitas famílias não é: a rotina é fundamental para promover o bem-estar de toda a família e possibilitar o processo de aprendizagem em casa. O professor do AEE pode estimular as famílias a definir a sequência e os horários atividades.
É preciso definir o momento das refeições, do sono, da participação das tarefas domésticas, nas atividades de vida diária como banho, escovar os dentes, vestir e despir, entre outros, do tempo do brincar e das atividades pedagógicas.
Baixe aqui um quadro de rotina!
Organização do ambiente
As orientações para a organização do ambiente de estudo são muito valiosas. Os familiares precisam compreender que os alunos necessitam de condições mínimas no ambiente para conseguirem se engajar nas atividades da escola: poucos ruídos, iluminação adequada, mesa, cadeira e pouca circulação de pessoas.
Trabalho colaborativo
O trabalho colaborativo entre o professor regente e o professor do AEE deve continuar no período de isolamento, através da comunicação por telefone, aplicativos de mensagens, email, videoconferência, ou outras formas mais viáveis à sua realidade. Esta colaboração é fundamental para que as atividades escolares sejam elaboradas de acordo com as necessidades de cada aluno da Educação Especial e de acordo com as metas definidas no Plano de Desenvolvimento Individual.
Mediação pelos familiares
Além da adequação das atividades pedagógicas, o professor do atendimento educacional especializado precisa orientar os familiares e/ ou responsáveis pelo estudante sobre o processo de realização da atividade e como fazer a mediação neste processo.
De maneira clara e objetiva, o professor do AEE explicar as etapas da atividade, deixar evidente a importância de não induzir as respostas, estabelecer reforçadores positivos (elogio, abraço, adesivos,etc) na conclusão das atividades e evitar punições no caso de resistência em realizar a atividade ou dificuldade de compreender o que é proposto.
Teleatendimento
Em alguns municípios brasileiros, os professores do Atendimento Educacional Especializado têm realizado teleatendimentos, sejam assíncronos (a execução das tarefas e o acompanhamento acontecem em tempos diferentes) ou síncronos (a execução das tarefas e o acompanhamento acontecem ao mesmo tempo).
Este tipo de atendimento é uma opção, contudo é preciso verificar caso a caso se seria uma solução efetiva. Ainda que o aluno tenha acesso aos dispositivos eletrônicos e que tenha uma família participativa, talvez esta ferramenta não desperto o engajamento necessário.
Ferramentas lúdicas de aprendizagem
A última sugestão de intervenções do AEE no período de isolamento é a indicação de ferramentas lúdicas de aprendizagem que podem despertar a motivação dos nossos alunos e possibilitar que aprendam de maneira mais prazerosa. Estamos falando sobre aplicativos educativos, jogos ou atividades feitas com material reciclável. Abaixo temos alguns links com sugestões interessantes:
- Aplicativos para celular voltados à alfabetização e conhecimentos matemáticos iniciais (download na Play Store)
- ABC do Bita
- Formar palavras
- Lele Sílabas
- Ler e contar
- Rei da Matemática
- Jogos gratuitos que trabalham as funções executivas
- Canal no YouTube com dicas de brinquedos e jogos com materiais recicláveis
Aproveite as dicas e comente o que você achou!
Imagem de capa: freepik.com
Considero importante quando:
– a família não está ciente da situação do estudante ou nega a situação
– família acha que o estudante tem algum laudo para inserir no AEE, mas na verdade necessita de outras intervenções Pedagógicas
– esclarecimento de algum quadro clínico severo que necessita de cuidados muito específicos a serem realizados pela escola ou família
– a escola/secretaria de educação não oferece atendimento/auxiliar ao estudante que tem direito
Maria Emilia, estes pontos são muito recorrentes na minha prática! No período do isolamento fica mais complicado ainda lidar com estas situações,exceto com o caso da família que deseja o AEE para uma criança de não tem o perfil necessário.
Sim, ter um diagnóstico sempre é bom
O diagnóstico é importante como um norte, né Adriana. Mas ele não diz das individualidades do aluno. Isso a gente vai descobrindo na prática, assim como as intervenções que funcionam no ambiente da escola.